Leia o que diretor da Corte Certo pensa sobre os softwares no artigo “Decifra-me ou te devoro”, publicada pela revista RG Móvel, disponível ao clicar na imagem abaixo, a partir da página 20.
Ou leia o texto completo a seguir.
Os softwares estão vivos. E já dominam o mundo. O que você está fazendo a respeito?
Ao que parece o novo século só vai dizer a que veio depois de revisar e revirar tudo o que já existe. A primeira dúzia de anos está sendo marcante por transformar o mundo em um imenso canteiro de obras. Tudo está sendo visado para ser remodelado, desconstruído ou mesmo demolido sem dó. Nada escapa: edificações, equipamentos, crenças, profissões, instituições, costumes, tradições, certezas, ideologias, valores pessoais, processos, métodos, moedas, ícones, burocracias, relações de poder, tabus, alimentação, educação. Olhe para onde quiser e você verá alguma coisa em frenético estado de evolução ou de decomposição.
E as pessoas à frente dessa ebulição adiantam que tudo isso vai ferver ainda mais. O indiano e professor de Tecnologia Educacional, Sugata Mitra, que esteve agora em São Paulo para participar do Campus Party, o maior evento tecnológico do mundo nas áreas de inovação, ciência, cultura e entretenimento digital, não tem dúvida, por exemplo, de que o telefone celular desaparecerá em cinco anos, substituído por chips instalados na cabeça do usuário!
Diante disso tudo, como estão se organizando as empresas não voltadas para a área de inovação tecnológica (mas que, sem dúvida, necessitam dela)?
Na minha percepção a maior parte delas não está nem aí. Vejo empresas enterrando a cabeça na areia, deixando como está para ver como é que fica. Existem, claro, indivíduos antenados, preocupados, mas sem forças para mover vontades dentro imenso bloco maciço de gesso.
Aconteceu ainda neste mês: o gerente industrial de uma grande multinacional para a qual havíamos passado proposta de aquisição de licença do Corte Certo, isso há meses, nos ligou para dizer que iria pagar do "próprio bolso", porque a empresa não decidia nunca e isso estava atrapalhando a sua vida.
Você vê algo assim acontecendo em sua empresa?
Porque esse tipo de história, para quem trabalha com licenciamento de software, nem causa mais estranheza. Há casos até mais surpreendentes: outra grande indústria, desta vez do ramo metalúrgico, perdia a cada hora, segundo seus próprios levantamentos, algo como 5 mil dólares no desperdício de chapas por problemas com planos de cortes, quando nos chamou para uma reunião. Apresentamos o Corte Certo a quatro dos seus líderes e saímos com a impressão de que era exatamente o que eles precisavam. Mais de uma semana depois, fomos chamados para nova reunião com novas pessoas. E veio outra reunião, e mais outra, até que desistimos, meses depois. Eles estavam perdendo 5 mil dólares por hora e não conseguiam decidir pelo investimento em uma licença PERMANENTE que custava cerca de 3 mil REAIS. Por que não decidiam logo? Mesmo que acabassem por descobrir, depois da compra, que havia algum outro software mais adequado para eles, nada poderia ser pior que continuar perdendo 5 mil dólares indefinidamente. O medo de errar assombra mais que a torneira já aberta do desperdício, por maior que seja, porque ela não imputa culpa a ninguém.
Mas por que tanta dificuldade em decidir sobre um software? Afinal, hoje ninguém duvida que o software esteja no epicentro das grandes mudanças em marcha. Que adiar esses passos pode significar pernas curtas para acompanhar a concorrência mais tarde.
Essa dificuldade tem uma simples razão: boa parte das empresas não sabe que software não é mesa, nem copinho de café, nem material de limpeza.
Ou CD.
Desde este mês de fevereiro não estamos mais entregando CDs com o programa Corte Certo, a não ser em algumas situações especiais, como exceção. Foi uma decisão que tardou muito (e que nem chega a ser novidade para pessoas mais plugadas no mundo dos softwares) e que é bastante razoável, uma vez que o software contido no CD pode ser ultrapassado por outras versões ainda no percurso do correio. Mas houve chiadeira: “Como assim? Então eu compro e não recebo nada?”. É mais ou menos como se a empresa comprasse alguns móveis e ficasse encantada com o caminhão de entrega, vendo-o como bônus.
Não, software não é CD, como os departamentos de compra gostariam, e, nem mesmo, hardware. O primeiro hardware de que se tem notícia é o ábaco, uma engenhoca com mais de 5.500 anos criada para auxiliar nos cálculos matemáticos. Da forma como o entendemos hoje, o hardware só pode proporcionar interação ao usuário através do software. Mas o hardware é que é visto, é tocado e é entendido pelas pessoas. E até dá para entender essa incompreensão, porque, em seus primórdios, numa época com poucos computadores, o software vinha embarcado em máquinas. O valor era o das máquinas. A comercialização de software era ainda impensável.
Mesmo a energia de que depende esse hardware para funcionar e que, igualmente ao software, é invisível, pode ser mais bem compreendida pelo usuário. Afinal, há centenas de anos frequenta o fluxo de caixa das empresas.
Para as empresas em geral e seus departamentos de compra em particular, os softwares representam uma dor de cabeça na qual não querem nem pensar. Mas eles estão aí, cutucando com o enigma da esfinge: “Decifra-me ou te devoro”.
Alguns engenheiros preferem para o software uma definição técnica, como “a parte lógica” da máquina, ou “o conjunto de instruções e dados processado pelos circuitos eletrônicos do hardware”.
Explicações mais informais dizem analogicamente que o hardware seria o corpo, a energia representaria a vida, e o software, o cérebro. Que seja, mas hardware com energia é apenas vida vegetativa. O complemento do software como apêndice do cérebro humano é que traz a vida real ao conjunto. Ou, pelo menos, o que pode haver de mais próximo a vida inteligente. Não por acaso, os termos associados aos softwares facilmente se confundem com os de organismos vivos: linguagem, memória, infectar, vírus, hibernar, alimentar, sistema, etc.
Na definição mais “técnica” é natural a tendência de entender o software como uma ferramenta estática de controle burocrático. Na outra, não fica difícil entendê-lo como instrumento de expressão individual, como o quer o jornalista americano John Markoff. Um exemplo que me ocorre é o da câmera de segurança: ela pode ter sido projetada e comprada para ficar ali onde foi instalada, apenas cumprindo o papel programado em seu software. Mas, eventualmente, combinada com várias outras câmeras de outros edifícios, pode ser eficaz em ajudar no rastreamento de um fugitivo da polícia ou na documentação de um crime em vários ângulos.
Isso é o que esperam os softwares dentro das empresas. Esperam por uso criativo, pela parceria da inteligência humana. O Corte Certo, desenvolvido primordialmente para a área de produção, tem sido licenciado muitas vezes exclusivamente para a finalidade de dar agilidade a vendedores, ou para auxiliar na definição de um novo móvel de produção seriada, ou para evitar aquisições superestimadas de painéis, ou para controlar o andamento dos pedidos, ou para administrar melhor o estoque, ou para possibilitar a aplicação de cálculo de depreciação para os retalhos.
Com o clipe de papel também se consegue fazer alguma coisa diferente da finalidade para a qual foi projetado, mas não, software não é clipe.
Se for para ter uma comparação, é melhor pensar em galinhas, vacas, cães. Impossível pensar neles sem pensar também em acompanhamento contínuo, que, no caso, incluirá despesas com alimentação, remédios, veterinário, abrigo, etc. E até pensar no convívio, para evitar que se matem.
Os softwares são dinâmicos, como os seres vivos, e há interações entre eles. Vivendo em ambiente também vivo, podem ser afetados por ele – geralmente em troca de versões do Windows (caso se subordinem a esse sistema)ou até mesmo em suas atualizações. Pode haver também equívocos nos resultados de check-up da saúde do software. É o que ocorre, quando novas versões de antivírus começam a localizar, no programa que analisam, os chamados “falsos positivos” (arquivos erroneamente detectados como malware ) levando o usuário a excluí-los e a causar estragos dos mais imprevisíveis. Outras tecnologias adotadas pela empresa também são continuamente alteradas por seus desenvolvedores (sempre na boa intenção de melhorar a performance) e, eventualmente, podem perder a capacidade de boa interação. São máquinas industriais, são impressoras, é o ERP. E, para essas situações, os ajustes devem ser sempre refeitos.
Como se vê, não há prazos limite para o pós-venda, embora, evidentemente, nenhuma empresa de qualquer ramo seja capaz de prestar serviços de assistência eternos pelo valor recebido com o licenciamento permanente. Mas aí já começamos a entrar na imensa seara das discussões sobre os mecanismos de licenciamento e distribuição de software, que, por sua vez, se vinculam a mecanismos de proteção de propriedade intelectual, e que se subordinam a legislações inadequadas e dúbias. Porque, não se engane, o dilema da esfinge também apavora legisladores e até desenvolvedores de softwares. São temas para discussão em outro momento.
Do ponto de vista das empresas usuárias de software (e qual não é?) o desafio já está colocado: encontrar políticas internas exclusivas para a adoção e manutenção de softwares, com o cuidado de não matar o fornecedor das suas galinhas de ovos de ouro. E não, não existe modelo pronto. Tudo está sendo repensado e reconstruído, neste início de século, lembra?Mais que nunca é válida a máxima de Wayne Gretzky, jogador canadense de hóquei no gelo, parafraseada por Steve Jobs: você tem de correr para onde o disco está indo, não para onde ele está.
E para quem demora a decidir pelo medo de errar, outra do mesmo jogador: “Você erra 100% das tacadas que não dá”.