Softwares, e-mails, mouses, etc.

Muitas vezes somos "corrigidos" por clientes por usarmos o plural "softwares". Em inglês, os substantivos não contáveis realmente não são pluralizados e a empresa desenvolvedora do Corte Certo (Dimensions Software) se mantém dentro da norma em seu nome, porque ele pertence a esse idioma. Para o uso em português, no entanto, optamos pela pluralização: softwares. É como faz a maior parte da imprensa. O mesmo é válido para "e-mail" e "mouse" (que, em inglês, seria mice ). Para nós é "e-mails" e "mouses". Mesmo que não aportuguesados, entendemos que esses termos já viraram português e, portanto, devem se adequar às nossas normas.

Algumas décadas atrás, o mais comum era aportuguesar ou identificar o termo estrangeiro com um par de aspas. Acontece que a avalanche de termos advindos principalmente das novas tecnologias tornou essas duas possibilidades quase inviáveis. E então franqueamos de vez o ingresso de palavras estrangeiras tal como são escritas e (frequentemente) pronunciadas, mas não necessariamente com suas normas gramaticais de origem ou mesmo com seus significados estritos.

Até porque, se já é difícil seguir as nossas próprias normas, imagine como seria complicado conhecer particularidades de idiomas estrangeiros.

“E-mail” é um bom exemplo. Segundo o Manual de Estilo para Publicações Técnicas da Microsoft, e-mail não significa mensagem e, por isso, não deve ser pluralizado. Teoricamente, em inglês não é possível dizer: “Recebi dois e-mails”. Na verdade, nem mesmo “um e-mail”. O plural correto seria E-mail messages.

Só que, em português, e-mail é, sim, sinônimo de mensagem eletrônica. E é pluralizado por nossas regras.

Aliás, não é porque a palavra está em inglês que o significado será o mesmo. Outdoor, por exemplo, é Billboard em inglês. E outdoor, em inglês, é “ao ar livre” em português.

O próprio hífen de e-mail não deve resistir muito tempo porque, aqui, ninguém entende o “e” (de “eletrônico”) como parte distinta da palavra. Aliás, nem mesmo nos países de língua inglesa essas referências conseguem sobreviver muito tempo diante da enorme influência do chamado inglês mundial, o praticado por milhões de pessoas que não usam esse idioma como língua nativa mas que vão estabelecendo regras especiais para ele.

As pessoas que insistem na adoção, no português, das normas gramaticais da língua inglesa para palavras com essa origem são as que estão familiarizadas com esse idioma, mas que, por outro lado, têm a tendência a globalizar esse conhecimento. Assim, inclinam-se a pronunciar Nóbel para o prêmio sueco (que, em português, pronunciamos como os suecos: Nobél – e como papelanel, etc.) ou Êiffel, para a torre que, como os franceses, pronunciamos Eiffél.

Se a ideia de acompanhar as normas gramaticais dos idiomas dos quais importamos palavras fosse boa teríamos de entender, por exemplo, que em italiano há, para começar, dois tipos de plurais, nenhum com “s” no final. E que, no alemão, não há regra fixa para o plural dos substantivos.

Pode ocorrer a alguém que há registros em nossa língua do uso de regras estrangeiras. E aí certamente aparecerá o clássico “campus” com seu plural “campi”. Péssimo exemplo. Quando é que se usa a outra flexão do plural, “campis”? E a “camporum”? Hoje em dia nem padre é capaz de saber.

Não seria bem mais prático aportuguesar campus para câmpus e usar a palavra como ônibusônus, etc.?

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